terça-feira, 25 de outubro de 2011

À meia noite, ela espera ele chegar... (Príncipe Encantado do Cerrado)

Para minha filha adotiva Poliana  


                     À meia noite, abajur iluminando quarto, ela rola de um lado para o outro da cama sem conseguir dormir, ela sonha acordada com seu príncipe encantado. Ela imagina que ele seja um herói loiro, alto de olhos azuis, imagina que ele virá montado num cavalo branco alado, roupas feitas com os tecidos mais nobres de toda a Europa. À meia noite no seu quarto, ela sonha acordada com seu príncipe encantado, ela imagina que ele saiba falar quase todas as línguas do universo, canta belas canções e recita lindos versos das mais apaixonantes poesias.
                     Ela imagina que ele seja herdeiro de reinos com imensos castelos e vasta extensão de terra, que até mesmo a visão mais apurada não consegue avistar toda sua imensidão. À luz de um companheiro abajur, ela imagina que ele travou batalhas memoráveis, derrotou sozinho um exercito inteiro, enfrentou ferozes dragões. À meia noite no seu quarto, ela espera ele chegar e entrar pela janela trazendo a lua em suas mãos, à meia noite ela espera perdidamente. À meia noite, ela espera ele chegar...
                    Às duas e vinte da madrugada, Ele chegou! Atrasado, mas chegou. Ele não era loiro, nem alto, nem tinhas olhos azuis. Ele usava gel no cabelo, corte à La Leo Moura do Flamengo e Neimar do Santos. Ele não chegou montado num cavalo branco alado, chegou pilotando uma Mountain Bike, marca Speed, já que seu Chevette 1986, amarelo, tinha lhe deixado no prego horas antes.  Ele chegou, mas não usava roupas feitas com os mais nobres tecidos da Europa. Ele chegou usando uma bermuda colorida, comprada na Feira dos Goianos em dia de promoção e uma camiseta preta cavada da Feira do Guará e um tênis Trazido do Paraguai.
                  Ele chegou e não sabia falar quase todas as línguas do universo, pelo contrário, seu vasto repertório lingüístico possui não mais que cinco frases de efeito: De Boa? Só! Só o Oro! Nas manha? Tranqüilo? Quando saiu do script, lançou um tal de “algum Pobrema” ai já era!  Não sabia recitar poesias, mas cantar ele sabia! Chegou cantando Michel Teló, aquele refrão que vem grudando no ouvido de todo mundo: ”Nossa, nossa/Assim você me mata/ai ai se eu te pego/Ai ai se eu te pego/ Delicia, delicia/Assim você me mata/Ai ai se eu te pego/Ai ai se eu te pego...
                  Às duas e vinte da madrugada ele chegou, mas ele não era herdeiro de reinos com imensos castelos e vasta extensão de terra que até a mais apurada visão não conseguiria avistar. Porém ele havia sido classificado no CODHAB na posição 111256ª para receber um lote do GDF. Ele não travou batalhas memoráveis, nem derrotou sozinho um exercito inteiro, nem tão pouco enfrentou ferozes dragões. Mas ele já havia se envolvido em uma briga de galera no show da banda Chiclete com Banana, feito que lhe rendeu quatro pontos no supercílio.
                   Ele não chegou trazendo a lua em suas mãos, mas mesmo assim, ela se apaixonou! Apaixonou-se porque percebeu que estava diante de um real Príncipe Encantado do Cerrado. E que príncipes encantados de verdade, só existem nos contos de fadas!

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