quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

“Aqui jaz mais um pobre cidadão”


             Um jornal caído na calçada, um fato acontecido na anterior madrugada, indiferença, indiscrição, humilhação, quem sabe? Era apenas um jornal caído na calçada. Um transeunte passa, um solitário vento matinal passa, carros passam, as horas passam, a vida passa! E o jornal caído na calçada, esse não! Um estalo afiado rompendo o silêncio, um pensamento regado a crueldade, lá se vai, uma noticia de primeira pagina, lá se vai, uma vida perdida no meio do nada.    
             Uma luz em algum quarto da vizinhança ensaiou espiar por entre a fresta da janela, aquela não era hora de estalo de fogo! O povo daquela redondeza estranhava tudo o que não era beleza, mas e o jornal caído na calçada? Ah! Esse não nos dizia nada! Entre o décimo primeiro e o décimo sexto gole, após um insignificante bate boca, certamente alguém vai morrer! Melhor não deixar o pobre coitado exposto, melhor cobri-lo com jornal!
           Ironia do destino, as horas passam, a brisa da manhã passa, o grito das crianças indo para a escola passa, os carros passam. E o jornal caído na calçada, esse não! Na TV, uma noticia quebra a rotina da programação: O numero de homicídio caiu vinte e cinco por cento! E o jornal na calçada? Esse embrulhava em primeira pagina: “Aqui jaz mais um pobre cidadão” a estatística da vida real, ah! Essa não cai não!      

3 comentários:

Renato Rodrigues disse...

André,
Muito bem lembrado....
todos passam veêm e não fazem nada para pelo menos tentar mudar um pobre cidadão, que na verdade não é cidadão, é mais um numero para a ESTATÍSTICA.

muitobom o texto!!!

Unknown disse...

Renato,
Essa é a nossa triste realidade! É preciso que cada um faça a sua parte!
Abraços,
André

Renato Rodrigues disse...

Boas Férias!!!!