quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ela já não veste mais o manequim trinta e oito.

Na foto: leitora, Van Oliveira.



Riscam nos céus algumas primaveras e ela já não veste mais o manequim trinta e oito. Ecoam por todo o seu quarto os fantasmas e receios de uma mulher de depois dos trinta. Porém um horizonte camuflado de imediatismo lhe diz: eu ainda sou o mesmo horizonte, essencialmente feito de eternidade. E lá no céu, riscam algumas primaveras.
O culto à forma perfeita, a super valorização ao espelho, sinuosidade forjada na fornalha de lindos e provocantes vestidos. Depois de algumas primaveras, tudo isso já não tem lá tanto sentido assim para ela. Hoje, já não tem certeza da cor do batom que quer ou deva usar. No cair dessas quase algumas primaveras, ela insiste em se preocupar com tudo aquilo que lhe possa cair mal.   
           Antes, a lei da gravidade era codinome para a sua autoestima. Hoje, a lei da gravidade é mãe zelosa e conselheira dos momentos de insegurança dela. Depois de algumas primaveras, aprendeu a conversar com o silêncio e a conviver harmonicamente com estrias e celulites. Aprendeu que a sua maior arma de sedução vem das curvas do seu coração. Vem da bagagem que ela traz no seu olhar. Depois de algumas primaveras, ela transformou o tempo na sua grande arma para enfrentar com majestade as mudanças do seu corpo.

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