sexta-feira, 1 de julho de 2011

Humanos-fantasmas


   Hoje, 28 de junho de 2011, caminhando, ali, no Setor Comercial Sul, no meu rotineiro e companheiro trajeto entre a parada em frente ao Pátio Brasil, até a empresa que eu trabalho, situada na quadra 03 do citado local. Me dei conta, que aquele lugar, se revelava todas as madrugadas, um mundo esquecido, tenebroso, sombrio. Um mundo a par da sociedade brasiliense. Um mundo que girava paralelamente a olhos nus, olhos mecanicamente contaminados pela banalidade.
        Percebi, que todas as manhãs, religiosamente, por volta das 06h10min, eu faço esse trajeto, e não me dei conta de tamanha atrocidade, que acontece naquele Setor Comercial Sul.  Sempre fiz o caminho, na maioria das vezes, acompanhado do meu amigo Sidney e da minha amiga Valquíria, que também trabalha comigo. Quando desço pelo rotineiro trajeto, via, mas nunca assimilei algo tão espantoso e revoltante, todos aqueles garotos de rua e jovens drogados, todos largados pelas calçadas, quase que se confundindo com a sujeira do local.
        Fiquei espantado, que só agora, caiu à ficha, há quase 06 anos faço esse trajeto e não via nada demais, como pode meu Deus, nossas retinas se acostumarem com cena tão chocante? Garotos aparentando doze ou treze anos de idade, tendo sua adolescência ceifada. Como pode meu Deus, garotos não conhecerem o que é uma bola de futebol? Mas conhecem intimamente, o brilho cortante de uma faca, o som assustador de um tiro, cuspido por um revolver? Fiquei desnorteado, e passei a me perguntar, quando foi que eles se perderam? Quando foi que as suas famílias os perderam?
         Meu Deus! Só agora me dei conta, que aqueles garotos, que eu vejo, vezes deitados em cima daquelas grades que servem como suspiro para os aparelhos de ar condicionados, grades que eram escolhidas por eles, porque soprava um ar quente, e assim, os aqueciam nas frias noites do DF. Só agora meu Deus! Só agora percebo que muitas vezes os confundi com fantasmas, almas desencontradas e perdidas na escuridão, de fato, eles são, aqueles garotos com seus edredons encardidos e fétidos. Só agora me dei conta!
        Só agora meu Deus! Só agora caiu à ficha que a garota de cabelo curto e fraco, corpo franzino, olhar morto, que eu vejo todo dia falando sozinha, e às vezes apanhando de algum playboy de esquina, só agora percebi, que essa garota, é a garota que há um ano, eu admirei e perdi mais de dez minutos, só apreciando a sua beleza, lembro que ela estava com mais duas amigas encostadas em um Ford Ka vermelho. Só agora meu Deus! Eu percebo que esses fantasmas e aquela garota morta-viva, sempre estiveram ali, diante das minhas e de muitas retinas fatigadas pela indiferença.
         Retinas que infelizmente, se acostumaram a conviver em paz com esse mundo paralelo, e seus seres excluídos da sociedade e da realidade de muitos de nós. Sei que muitos deles, entraram por que queriam curti uma onda diferente, outros, porque queriam fugir de problemas, outros, não sabem até hoje que entraram. Acontece que esses humanos-fantasmas, mergulharam em um caminho em que a volta, muitas vezes é impossível, volta que lá no intimo de muitos, é mais que desejada, é implorada em silencio!
        Meu Deus! Só agora percebo tamanha indiferença da minha e da parte de muitos, quantas vezes chegamos até a passar por entre eles, como se não tivesse nada ao nosso redor, no nosso caminho, realmente, um mundo paralelo, só nos preocupamos com os assaltos, roubos e furtos cometidos por eles, mas não nos preocupamos, se aqueles humanos-fastamas têm comido bem, dormido bem, ou algo mais simples, se sentem frio na madrugada?
          É preciso sim, estarmos atentos e preocupados com a nossa segurança, a dependência química, os transformaram em seres vazios da faculdade do pensar, deixaram de ser cidadãos, mas continuam sendo gente. Só agora meu Deus! Me dei conta, que aqueles fantsmas-humanos são na verdade, humanos-fastamas. Só agora meu Deus! Só agora percebo que eles precisam de nós, da nossa ajuda, de nosso socorro, de um olhar amigo! Só agora meu deus! Só agora! Só agora!

2 comentários:

Mari disse...

André esses dias me pegue pensando nisso e as vezes o medo e tão grande que esquecemos ate que sãos seres humanos e tanta violência e tanta coisa que ate nos olhos e coração endurecer temos que nos policiar para não achamos tudo “normal” e perde a sensibilidade, mas e difícil porque e diário então torna-se rotineiro e pessoa que ta ali pedindo, deita ,surja ate deixa de ser um pessoa e torna-se um objeto da aquela esquina e não por não ter um bom coração e dia-dia a rotina que maçante e sociedade que não tem onde abrigar e outros casos sociais que nem vale apena cita por ficaremos dias falando tal qual e injusto. Outro dia me vi no meio deles sem quere ao dobra um esquina foi um susto tão grande que eles perceberam um me disse “desculpa pela susto, e pode passa tranqüila que ninguém vai fazer nada com você moça” fique sem reação e com vergonha por mais que susto tenha sido involuntário daí sem nem pensar respondi “ me desculpa vocês foi mal e voltei, todos me questionário quando contei falando porque não saiu correndo com medo de assalto por que sempre rola,porem ele não tinha me feito nada não precisa pediu desculpa pela condição social dele. Pelo meu medo então pedi também desculpa me sentir bem com isso.

Unknown disse...

mari,
Precisamos abrir as janelas para receber o novo dia!