quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Triste quarto vazio de uma adolescente (In Memoriam)

                                                 
          Eu sou um quarto aconchegante, aqui eu tenho uma cama confortável, uma mesinha de computador, um guarda-roupa e uma pequenina estante. Eu sou um quarto aconchegante. Tenho uma televisão, sou pintado de rosa com motivos femininos, sou um universo feminino. O universo de minha menina. É verdade, ultimamente tenho sentido um aperto no meu bobo coração. Minha menina quase não dormia mais aqui.
          A pequena televisão agora vive desligada, calada, quase não fala mais comigo. Até o diário das meninas super poderosa, anda esquecido, lá no canto de alguma gaveta da pequenina estante. A minha menina mudou o seu jeito, trazia no peito uma vontade de ser mulher. Quando ela nos dava o ar da sua graça, acho que era para fazer pirraça, ela só falava com o seu inseparável amigo computador. E sabe o que é o pior? Até ele notou!
        Ela vivia irritada, exalava fumaça, um aroma que às vezes lembrava doce canela, outras vezes, um perigoso aroma de hortelã! E eu, quarto inquieto, esperava ela chegar, lá pelas seis horas da manhã. Ela tatuou o corpo, aprendeu a pintar o rosto, diminuiu o tamanho das roupas. E fez do cigarro seu maior confidente, ela ainda colocou piercing no nariz, no umbigo e no dente. Eu fui aconselhá-la a tirá-los, ela se irritou comigo.
       As festinhas ganharam o perigoso apelido de Balada. Antes, o pai dela era quem a levava nas festinhas. Hoje, ela vai de carona com a galerinha. Cadê a minha menininha? Ela trocou o “Tudo bem?” por um tal “Tá de boa?” ela se transformou em outra pessoa! Eu sou agora, um quarto esquecido, dias desses amigos, eu acordei com uma horrorosa sensação, minha menina, ainda não havia chegado não. Na verdade, ela nunca mais voltou!  Hoje, eu sou um triste quarto dando esse relato
      Minha menina varou a madrugada a procura de uma Balada e nunca mais voltou. Ela perdeu o caminhou de casa, perdeu a vida numa curva de estrada e, para o seu quarto de adolescente, ela nunca mais voltou.

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