Eu deixei para trás um Eu...

André, o Eu que ficou

                                                     

           Eu deixei para trás, um Eu parado na esquina. Um Eu que admirava a neblina e amava o medo de seguir adiante. Eu deixei para trás, um Eu recheado de receios e problemas existências. Eu deixei para trás, um Eu, que eu espero não ver jamais.  Eu deixei para trás, um Eu freqüentador de um museu de artes vazias. Vazias de vontade de vencer, vazias de vontade de viver. Eu deixei para trás, um Eu que não traçava sonhos para o futuro.

          Eu deixei para trás um Eu que vivia em cima do muro. Eu deixei para trás o Eu da inércia.  Eu deixei para trás, um Eu que não se emocionava com o nascer de um novo dia. Eu deixei para trás, um Eu que nunca namorou sob a luz do luar. Eu deixei para trás, um Eu que não se encantava com o mar. Eu deixei para trás, um Eu que tinha medo de ser feliz! Deixei para trás um Eu que não era dono do seu próprio nariz.

         Deixei para trás um Eu parceiro da solidão. Um Eu desconhecido da multidão. Eu deixei para trás, um Eu que mais se parecia com uma melodia formada por notas tristes. Deixei para trás, um Eu de olhar triste e andar cabisbaixo. Eu deixei para trás, um Eu que andava afastado de Deus. Eu deixei para trás, um Eu que há muito se perdeu, nas entrelinhas da tão falada zona de conforto. Eu deixei para trás, um Eu que não conhecia o seu próprio rosto.

       Deixei para trás, um Eu que não me deixava arriscar, um Eu que não me deixava sonhar.

       Eu deixei para trás, um Eu que me tornara um Eu distantes dos meus sonhos. Eu deixei para trás, um Eu que não permitia que eu olhasse para dentro de mim.