terça-feira, 8 de novembro de 2011

A carta e o E-mail

                        
            Hoje cedo presenciei uma intrigante conversa entre uma saudosa carta de amor e um descolado e-mail. Era uma conversa que já estava se transformando em uma discussão. Por conhecer os dois e perceber que o clima não estava lá muito amigável, fiquei ali por perto, quase que como um mediador daquele pequeno debate. Ouvindo os dois debatendo, pude compreender o teor da conversa e o ponto de vista que cada um defendia.
             A saudosa carta de amor explanava sobre uma época romântica e maravilhosa de sua vida e de onde ela cresceu. O descolado e-mail, por outro lado, defendia a unhas e dentes a modernidade em que ele vive.  A carta dizia que no tempo dela, havia aquela doce espera por ela, sempre havia um alguém a lhe esperar, sempre a esperar por notícias de longe. O e-mail achava graça e tirava um sarro da nostálgica carta de amor, segundo ele, esse papo de esperar dias por notícias do seu Love, tá por fora. Com ele, o negócio é digitou, enviou!
            A carta rebatia dizendo que entre ela e a pessoa que a escrevia, existia cumplicidade, troca de segredos e confissões, enfim, havia já no ato da escrita, uma relação de amor e carinho. Novamente, o moderninho e-mail tirava uma onda com a cara da apaixonada cartinha de amor e, dizia: Que papo é esse de relação, cumplicidade, troca de segredos? De boa? Não há tempo a perder com esses sentimentalismos vagos, a parada é: Mô tô de Bobs! Vamu dá um Rolé? Te pego às dez! Xero! Não dá pra ficar enrolando!
           Aquela conversa ficou interessante, atentei mais ainda para aquelas indagações formidáveis. A cartinha relatava que ajudou vários casais a iniciarem um namoro e depois a se casarem, jurou até que foi promovida a convite de casamento e rodou os quatro cantos do mundo anunciando muitas uniões.  O descolado e-mail, mais uma vez rebatia tão convincentes argumentos da cartinha amorosa e, disse:
         - lindinha! Na boa! Você para conhecer apenas quatro cantos do mundo, precisou ser promovida? Eu, ah! Eu, imagine você, sem promoção alguma, conheço o mundo todo, certa feita, uni um Palmeirense que morava em Tóquio com uma Corinthiana que morava em Varginha (MG). Já fiz muita galera se curtir nas baladas e algumas pessoas até ficaram alguns dias a mais! Não só fraco não! A saudosa carta tentou uma ultima cartada e lançou:- eu já levei notícia de nascimento e primeiros passos para muitos papais distantes! Era lindo receber aquela chuva de lágrimas de alegria sobre mim.
            O moderninho E-mail sorriu de canto de boca e disse: Você dessa vez pegou pesado!Mas tudo bem! Eu, bom, eu já enviei fotos de muitos bebês, quando eles ainda estavam nas barrigas de suas mamães, eu que não sou sentimental, deixei rolar umas duas ou três lágrimas. E quanto aos primeiros passos? Por minha causa, vários papais viram de camarote seus filhotes iniciarem a longa jornada para se tornarem independentes.   
          Percebendo que aquele debate iria dia a fora, resolvi interceder a favor do bom senso e indaguei: vocês dois foram e sempre serão muito importantes para a humanidade, cada um na sua particularidade! A carta deu à luz a lindos bilhetes apaixonantes que povoaram e convivem harmoniosamente com os torpedos que por sua vez, são filhos desse e-mail farrista. Então, se seus filhos convivem harmoniosamente, é mais do que possível que vocês dois: Carta e e-mail possam conviver cada um no seu espaço e nas suas particularidades.
         Porque futuro e passado, dependem um do outro para existirem.

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